Inicio-me hoje a indagar sobre as questões da minha cidade - Guimarães - e começo logo com um tema polémico e que tem suscitado inúmeros debates e discussões: o projecto de remodelação do Largo do Toural.
Confesso que me deixei enredar nas movimentações, hesitações e convulsões que envolveram o projecto. Inicialmente coloquei-me do lado dos apoiantes à remodelação - à existência da mesma e, também, no formato proposto. Hoje encontro-me do lado oposto. Sou contra qualquer grande intervenção no Toural - esta dever-se-ia resumir a alterações mais simples e económicas - e, por conseguinte, contra esta remodelação específica.
Compreendamos que as alterações não se ficam pela cosmética: esta intervenção poderá alterar hábitos sociais, a circulação automóvel, a subsistência do comércio. E, como tal, há que ter especial prudência. Até porque todos conhecemos o desastre que foi a intervenção no Largo da Mumadona.
Durante os próximos dias vou colocar posts sobre aqueles que são, quanto a mim, os principais problemas deste projecto.
1) Duração da obra O problema mais imediato parece ser a demora da realização da obra em si. É quase inimaginável termos durante meses (ou anos?) um buraco gigantesco naquilo que outrora era o Largo do Toural. Será mau para a cidade, mau para as pessoas, mau para o trânsito (pedonal e automóvel), mau para o turismo, mau para os cafés, mau para as lojas. E some-se ainda o barulho, as poeiras, a maquinaria gigante a poluir a paisagem. É uma catástrofe auto-infligida.
2) O parque de estacionamento subterrâneo É uma ideia interessante e já implementada noutras cidades (vide Braga), e que tem vantagens inegáveis: permite o acolhimento de um número elevado de carros em pleno centro da cidade, sem sacrificar grandemente a paisagem ou a circulação. Mas...será um espaço aprazível? Limpo, arejado? A maioria dos subterrâneos que conheço não o são (novamente dou o exemplo de Braga). E a segurança? Um espaço desses será um sítio seguro para estacionar o carro durante a noite? Não será sensato considerar que é um sítio muito oportuno para assaltos? E os preços? Não havendo alternativas válidas, será sensato establecer preços elevados como no parque subterrâneo do Estádio D.Afonso Henriques?
Tudo isto são questões que poderão afastar os vimaraneneses de utilizarem este parque (e, destaque-se, os vimaranenses nunca aderiram com grande entusiasmo a este tipo de locais) - o que compremeterá toda a dinâmica do projecto.
3) Retirar a circulação automóvel.E extendamos esta questão também para a Alameda de S.Dâmaso e Rua Santo António, onde igualmente está prevista a circulação exclusivamente pedonal. Será impossível conciliar automóveis e peões? Não creio. Tanto o Toural como a Alameda têm espaço suficiente para o permitir. Se os passeios e praças centrais forem remodeladas e optimizadas, será possível criar um espaço agradável para as pessoas - com cafés, esplanadas, jardins, etc - bem como continuar a permitir que os carros utilizem essa artéria.
Pensemos no assunto: já imaginaram um espaço desta dimensão (desde o início da Alameda até ao final da Rua Santo António) sem qualquer trânsito automóvel? Não ficará um espaço demasiado frio e silencioso? Não será, inclusivé, perigoso? Não corremos o risco, perante tão amplo espaço, de termos um local ideal para a circulação de marginais - nomedamente à noite? Não creio que esse espaço tenha vida e gente suficiente, tenha luminosidade suficiente, tenha policiamento suficiente, tenha locais abertos suficientes, para garantir essa segurança. Os carros dão vida à cidade. Criam ambiente, movimento. Não me parece haver qualquer necessidade de recorrer a tanto espaço que obrigue a retirar os automóveis.
4) A mobilidade.Actualmente o Largo do Toural tem sérios problemas de trânsito intenso, sobretudo nas horas de ponta. É uma artéria congestionada, excessivamente movimentada, mas à qual não são oferecidas grandes alternativas. A criação do túnel subterrâneo em nada parece ser capaz de ajudar a este problema. Mais grave do que isso, dá toda a ideia que o irá piorar. E termos os túneis "entupidos" não será, certamente, bom para a vida na cidade, e será mais uma dor de cabeça para os automobilistas. E de que modo será conjugada a circulação automóvel com as entradas e saídas do parque subterrâneo adjacente? Não se criará aí mais uma complicação, mais um nó para a circulação automóvel? Estou em crer que sim.
Em jeito de conclusão:
Guimarães tem a Praça de Santiago, Largo da Oliveira, Rua da Rainha e Rua de Santa Maria como locais primordiais para a existência de bares e restaurantes. Não creio que a cidade tenha dimensão suficiente para povoar outras praças - nomeadamente Toural e Alameda - de mais bares e restaurantes, sobretudo se tivermos em conta o espaço que é necessário preencher. O retirar da circulação automóvel vai tornar estes espaços mais frios, silenciosos e inseguros. E a criação de túneis vai, muito provavelmente, piorar ainda mais a circulação automóvel.
A cidade precisa de estacionamentos em locais centrais, concordo. A minha opinião tende para a revitalização do parque que se encontra debaixo do Estádio. Aberto todos os dias, de manhã até à noite, a preços realistas. O Toural e a Alameda necessitam de uma "actualização" que os tornem mais modernos e habitáveis. Optimize-se esses espaços ao invés de deitar abaixo, escavacar e reconstruir. Simplifique-se. Projectos megalómanos não parecem ser aquilo de que a cidade necessita. Toda a obra feita no Centro Histórico foi pautada pela discrição e pelo rigor. Com tempo, com estudos, com projectos sustentados e coerentes com o passado da cidade e com o futuro da mesma. O projecto do Largo da Mumadona foi repentino, despropositado e feito em cima do joelho. E, sobretudo, não respeitou os pergaminhos de Guimarães. Tanto poderia ter sido feito aqui como noutra cidade qualquer. E isso é o que não pode acontecer no Toural.