22 agosto, 2008

Momento Pasquim

No dia em que Portugal ganhou a sua 4ª medalha de ouro nos Jogos Olímpicos (desde sempre!), um jornal desportivo, de tiragem nacional, reservou o destaque da sua capa para...uma vulgar e rotineira entrevista a um jogador de futebol do Benfica.



Como já por diversas vezes critiquei este jornal aqui no blog, e como não quero ser acusado de perseguição ou má-fé, vou ter particular cautela nas palavras que escolho para a minha conclusão: o jornal Record é lixo.

21 agosto, 2008

Pequim 2008 = Fiasco



Dos fracos não reza a história, e por isso não esperem louvores meus aos perdedores. O que é certo é que alguns, com as mesmas condições de outros, conseguiram fazer muito mais. Por isso, ao Nélson e à Vanessa, o meu grande obrigado. Quanto aos restantes, por mim, se quiserem ir a Londres em 2012, que reservem um voo pela Ryanair e vão até lá dar uma volta. É que para levar um conjunto de atletas medianos que se dizem de alta competição...não vale a pena.

Aqueles que dizem que não temos condições...que pesquisem um bocado. Vão encontrar infra-estruturas específicas para atletas olímpicos (Centro de Alto Rendimento de Montemor-O-Velho, Centro de Preparação Olímpica de Rio Maior, Complexo Desportivo de Vila Real de Santo António, etc.) - onde até atletas estrangeiros vêm treinar.

O meu plano? Em vez de se andar a esbanjar dinheiro nesses funcionários públicos, que se crie um plano nacional de desporto com infra-estruturas mais simples - em grande número, por todas as cidades - que sejam úteis ao cidadão comum, oferecendo a possibilidade a qualquer pessoa de poder praticar desporto. Isso sim, é verdadeiramente importante.

17 agosto, 2008

O Verão ainda vale a pena em Guimarães?

Perante a habitual migração sazonal dos habitantes de Guimarães para a Póvoa de Varzim ou Vila do Conde, a cidade parece ter-se rendido e aceitado a derrota. Nestas noites de Verão, o centro histórico não regista as enchentes de outros anos e as ruas da cidade estão pouco mais do que desertas. E tal não surpreende: pouco ou nada parece acontecer que justifique a presença. A diversidade de espectáculos no centro histórico que nos era presenteada em tempos, noutros anos, parece ser agora uma miragem. Nem dança, nem teatro, nem música, nem nada.

A programação da cidade parece assentar exclusivamente nas Festas Gualterianas, que cada vez recebem menos entusiasmo da população local e mais de visitantes exteriores, que continuam a encher as ruas da cidade...durante 4 dias. Felizmente que a praga dos vendedores ambulantes foi erradicada. Os Vimaranenses agradecem; menos um incómodo no seu dia-a-dia, menos poluição visual (e não só) nas nossas ruas.

Digna de registo é a continuação do excelente trabalho do Cineclube de Guimarães, há 20 anos a oferecer cinema de qualidade, ao ar livre, em pleno centro histórico - durante todo o mês de Agosto. O cartaz é, como habitualmente, bem pensado, oferecendo filmes para todos os gostos, ainda que este ano se tenha apostado em filmes com realizadores e actores mais familiares ao público.

Outro apontamento interessante é o do Barco Rock Fest, festival de música em S.Claúdio de Barco, que reunirá alguns dos melhores nomes emergentes da música portuguesa, como os Linda Martini, os DaPunkSportif (já mencionados aqui no blog) e os Mundo Cão. Também haverá cinema - em protocolo com o Cineclube (eles, uma vez mais). De 20 a 23 de Agosto.

E são estas dinâmicas muito próprias, surgidas de pequenos núcleos, que dão ainda um pouco de dignidade à agenda cultural Vimaranense. A autarquia, essa, parece que se juntou ao resto da população - fez as malas e foi de férias, quiçá terá mesmo alugado uma barraca e ido molhar os pés na água gelada do Atlântico.

15 agosto, 2008

Third



Close...but no cigar. O terceiro álbum dos Portishead - engenhosamente denominado Third... - tem momentos altos, mas acaba por nunca se conseguir definir. Aponta em várias direcções mas não consegue ser propriamente bem sucedido em nenhuma delas.

O som, esse, é incómodo, confuso e imprevisível. Mais do que alguma vez os Portishead tinham ousado. O álbum está cheio de pequenos pormenores que se vão descobrindo aos poucos, e requer esforço, muito esforço, para ser ouvido. Daí que eu considere que os Portishead provavelmente terão ido longe demais.

Ainda assim, belíssima a música The Rip. We Carry On, Plastic e Machine Gun são também faixas muito interessantes.

Em conclusão: para quem quiser explorar o mundo do trip-hop, recomendo muito mais rapidamente o primeiro trabalho dos Portishead: Dummy.

11 agosto, 2008

Demasiado crasso



Se se contrata um profissional, pago a peso de ouro, para gerir eficazmente a comunicação do Vitória, como se pode admitir que se coloque, na página principal do site oficial do clube, em grande destaque, um erro ortográfico impensável até para miúdos da escola primária?

Escreve-se "tu" e não "tú", meu caro José Marinho...

05 agosto, 2008

Mars...voltem!

Trazer os The Mars Volta a Paredes de Coura é dar pérolas a porcos. Lendo os comentários dos "críticos" cá da praça, chego à conclusão que Portugal ainda é um país demasiado limitado a nível artístico. E sabendo que muitos espectadores que estavam no recinto foram abandonando o concerto, só tendo regressado para ver dEUS, só posso concluir que aquela gente de alternativa só tem o aspecto.

Pede-se agora um rápido regresso dos The Mars Volta a Portugal...mas em nome próprio, e com os plebeus fora do recinto. Porque o concerto em Paredes, esse, foi divinal. E deram uma valente lição de como se faz música a todas as bandas que passaram por aquele palco neste festival.

01 agosto, 2008

TGV - Análise e Alternativas

Conforme prometido há uns tempos, ir-me-ei debruçar aqui no blog sobre a questão do TGV. Fa-lo-ei durante os próximos dias, tendo para tal dividido o tema geral em vários sub-temas. Comecemos então:

1) A utilidade do TGV

O TGV não tem utilidade prática, não vem suprir, verdadeiramente, uma necessidade. O TGV tem uma distância máxima de rentabilidade de 600/700 quilómetros. A partir daí o TGV não faz qualquer sentido porque ninguém está para demorar 7 horas para fazer Lisboa-Barcelona ou 14 horas para fazer Lisboa-Paris. Não existe concorrência possível com o avião. A ligação à Europa não passa de um mito para encher cabeças impressionáveis.

Nada de novo neste país que, sempre que teve acesso a dinheiro, o desperdiçou nas coisas mais inúteis. O número de empregos que a sua construção irá gerar esfumam-se mal a obra esteja concluída...e a partir daí fica para a história o elefante branco que se ergueu.

O TGV é, assim, uma espécie de Convento de Mafra do século XXI, só que em vez do ouro do Brasil, é financiado por fundos da União Europeia.

2) A Linha do Norte

A linha Lisboa-Porto em Alta Velocidade (velocidades superiores a 300 km/h) não faz sentido por diversos motivos:

Primeiro tem um custo gigantesco dada a elevada densidade populacional e o relevo, obrigando a investimentos em expropriações e a construir túneis e viadutos, já para não falar nas condições técnicas exigidas a uma linha deste tipo. Construir uma linha em Alta Velocidade é muito mais caro do que construir uma linha em Velocidade Elevada (velocidades de 220/250 km/h). Cada km/h a mais custa milhões.

Depois a linha de Alta Velocidade Lisboa-Porto torna-se inútil e redundante com 5/6 estações num espaço de 300 quilómetros. Só os directos poderão fazer o percurso na 1.15h prevista. Os restantes andarão ao ritmo de uma linha de Velocidade Elevada. O TGV demora dezenas de quilómetros a atingir "Alta Velocidade" e outros tantos a reduzir dessa mesma velocidade. Situação semelhante àquela que temos com os Alfa nesta mesma linha do Norte, e que não permite que tiremos total partido deles.

Convirá então recordar que possuímos um conjunto de comboios aproximados a Velocidade Elevada - os Alfa já mencionados -, que num país com juízo deveriam ser utilizados. Actualmente, pela linha do Norte, o Alfa (não directo) demora 2.35h a fazer Lisboa-Porto. Ou seja: no máximo dos máximos, um directo numa linha que custa milhares de milhões de euros reduzirá esse tempo em 1.20h.

2.1) Alternativas para a Linha do Norte

Impõe-se então saber que soluções se podem propor para o futuro da Linha do Norte.

A questão que se coloca é se será possível reduzir o tempo de viagem na Linha do Norte para que comboios directos Lisboa-Porto façam o percurso em cerca de 1.30h - solução preferível dados os milhões que já se gastaram na renovação desta linha. Possivelmente é um exercício impossível, dado o transporte de mercadorias e o tráfego de inter-regionais e regionais.

Assim sendo a solução pode passar pela construção de raiz de uma linha de Velocidade Elevada entre Lisboa-Porto na bitola europeia: o que representaria cerca de 1.35h de viagem.

Ou então, numa solução mais económica, adaptar os Alfas para a bitola mista e construir certos troços de Velocidade Elevada de raiz, e integrá-los nos troços já de "Velocidade Elevada" da linha do Norte (Coimbra-Aveiro, por exemplo), podendo os comboios "mudar de bitola" de acordo com o troço. Tecnicamente é perfeitamente possível e os custos são sempre muito inferiores a uma linha de Alta Velocidade de raiz.

Uma linha de Velocidade Elevada significa 20/25 minutos de diferença para uma linha de Alta Velocidade numa distância de 300 quilómetros nas características actuais da Linha do Norte (várias estações).

3) Lisboa-Madrid

Quanto à ligação Lisboa-Madrid, estudos já efectuados referem que a grande utilidade da linha será inserir a Extremadura no raio de acção do novo Aeroporto de Lisboa. Mas simultaneamente parece que esquecem que se o tempo de viagem entre Lisboa e Badajoz se reduzirá (e daí a Extremadura poderá vir apanhar os voos internacionais a Lisboa), também se reduzirá de Badajoz a Madrid. Logo o mais provável é ficar...tudo na mesma.

O Aeroporto de Lisboa nunca será um "hub" europeu porque Madrid já é um "hub" (secundário, aliás) por si mesmo. Poderá ser, e já o é (e o novo Aeroporto poderá apenas potenciar esse facto), um "hub" terciário para o...Brasil, já que a restante América Latina apanha em...Barajas (arredores de Madrid) e continuará a apanhar em Barajas.

A linha Lisboa-Madrid estará sempre em défice de exploração. Será sempre um buraco.

A linha de Alta Velocidade Lisboa-Madrid, a ser feita, será uma pura opção política. Opção política de ligar as duas capitais da Península no menor tempo possível por ferrovia. Não existe nem nunca existirá uma justificação racional para o fazer.

3.1) Alternativa para a linha Lisboa-Madrid

Para esta ligação, a opção mais sensata era optar por uma linha de Velocidade Elevada. Porque a Velocidade Elevada permite o transporte de mercadorias. E as mercadorias poderão assim "salvar" a rentabilidade da linha. Não que a Alta Velocidade também não permita o transporte de mercadorias, mas raramente são usadas para esse propósito, dado o aumento significativo que tal representaria no preço final das mesmas, sem que tal se justificasse minimamente - as mercadorias não precisam de ser transportadas a 300 km/h.

4) Transporte de Mercadorias

Portugal necessita urgentemente de uma rede de transporte de mercadorias por ferrovia. O transporte rodoviário é cada vez mais inviável devido às emissões de dióxido de carbono e, sobretudo, porque se está a tornar incomportável financeiramente, dado que, pela primeira vez, o petróleo começa a deixar de ser barato numa perspectiva de médio e longo prazo...e para sempre. Mas infelizmente a nossa rede ferroviária foi sendo desmontada ao longo dos anos, até se chegar à situação deplorável que temos actualmente. Agradeçam à CP, ao Estado, e ao monopólio por eles criado (insiste-se muito nos monopólios neste país...).

Obter uma solução eficaz custa menos, muito menos, do que construir uma rede de TGVs para fingirmos que somos um país desenvolvido. Pede-se então uma rede organizada, aberta e, consequentemente, com tarifas de transporte competitivas. Algo só possível numa rede em que exista concorrência de transportadores (algo comum na restante Europa mas inexistente por cá).

5) Conclusão

O TGV faz sentido para os grandes países Europeus. Devido à sua localização central, devido à distribuição das suas cidades (as cidades principais estão distanciadas a 200/300 quilómetros num polígono), devido à sua riqueza, devido às suas condições sócio-económicas, devido ao acesso à electricidade (não é coincidência que o TGV - que necessita de muita electricidade - tenha surgido em França: o líder europeu na energia nuclear...), devido à capacidade tecnológica e produtiva da sua indústria (países como Espanha, França e Alemanha fabricam as suas carruagens de Alta Velocidade), e por aí em diante.

Portugal não possui nenhuma destas características. E como tal não reúne as condições essenciais para este tipo de projecto.